Psicanálise Fácil e Prática- Artigo 12

Psicanálise Fácil e Prática- Artigo 12

Psicanálise

Transtornos Espirituais

Psicanálise e a Classificação das Perturbações Psíquicas 

A classificação dos transtornos mentais tem sido alvo de muitas controvérsias, pois contém muitas limitações para uma abordagem dinâmica das chamadas “doenças mentais”, perturbações, transtornos ou patologias. O sistema americano de classificação (DSM – 5) implica num conceito estático dos transtornos que não observa as flutuações clinicamente identificadas nos consultórios.

Os transtornos mentais são classificados em grupos de e comparados a outros grupos. Tal comparação contradiz a experiência clínica, pois ela demonstra diferenças acentuadas entre indivíduos, que estão colocados na mesma categoria de classificação. Não observa os conflitos psíquicos subjacentes e os mecanismos que originaram os sintomas. Problemas de um grupo na classificação podem ocorrer em outros grupos. A dificuldade é especialmente verificada nas perturbações da infância e da adolescência, onde a consistência da patologia é menor que no adulto. Ainda não existe um sistema totalmente confiável de classificação de transtornos mentais e normalidade.

O Espectro da Regressão da Perturbação Psíquica

Pode-se imaginar um espectro que oscila entre normalidade em um extremo e a psicose no outro. Na linha imaginária entre os dois tipos de situação deve ser observado:

1. O nível da intensidade da fixação ou regressão psicológica, a volta aos conflitos infantis inconscientes, reprimidos.
2. A facilidade e grau, com que a fixação ou regressão se sustenta.
3. Se a regressão é suscetível de modificação e de integração psicológica dos mecanismos psíquicos.
4. Os significados latentes dos sintomas.

Há grupos de transtornos bem definidos e também outros em que há diferenciação menos clara. A classificação das perturbações mentais é esta:

1) Normalidade

2) Perturbações da Personalidade

3) Neurose

4) Psicose

5) Os Estados Borderline (Fronteiriços)

6) As Perturbações Orgânicas

 

A Normalidade

O conceito de comportamento “normal” não é absoluto, pois há uma significativa variação da atividade psíquica.  Muitos conflitos e mecanismos psíquicos encontrados nas pessoas perturbadas mentalmente, são encontrados também na vida mental dos indivíduos normais, embora haja diferenças de intensidades.

A função mental normal pode ser dinamicamente definida assim:

Implica num equilíbrio estável, num nível relativamente amadurecido do desenvolvimento psicossexual, com uso de mecanismos do ego eficazes e a manutenção de um estado de adaptação compatível com o juízo de realidade.


Saúde mental
é a capacidade de manter a adaptação madura ante qualquer conflito, é a habilidade do indivíduo de conduzir-se eficazmente sem se estressar, tanto no estresse previsível como no imprevisível. No estado normal, na função do ego ideal, os conflitos são resolvidos de modo consciente, com repúdio dos impulsos inaceitáveis, sem uso de defesas inconscientes, com quantidade mínima de energia psíquica ligada às funções defensivas, sempre orientado para a realidade do processo secundário (lógica, razão), contra o processo primário (sem lógica). O conceito de saúde ideal raramente é realizado por completo, mas pode chegar-se a aproximações parciais.

A personalidade normal, sadia, está livre do sofrimento neurótico em forma de ansiedade doentia, culpa, além de poder criar qualquer área de escolha livre consciente, para obtenção de satisfações.

As Perturbações da Personalidade

Podem variar de moderadas a graves, conforme a intensidade das perturbações. Pessoas perturbadas podem mostrar graus de fixação ou regressão diferentes e significativos.

Nesse grupo o indivíduo faz tentativas repetidas, compulsivas, inconscientes de adaptação, de integração e uso intensificado de mecanismos de defesa, como a formação reativa, repressão, identificação, introjeção, dentre dezenas de outros.
O conflito inconsciente é maior do que nas pessoas normais.
Veja a seguir exemplos de perturbações da personalidade (estudadas no Eneagrama) pelo modo obsessivo de agir:

A) Atitudes rígidas perfeccionistas, tolerância zero (tipo 1).
Transtorno de Personalidade Obsessiva-compulsiva.

B) Excessos para se tornar querido pelos outros (tipo 2).
Transtorno de Personalidade Histérica (histriônica)

C) Obsessão por resultado, muito voltado para si mesmo (tipo 3).
Transtorno de Personalidade Narcisista.

D) Instabilidade emocional grande e vitimização extrema (tipo 4).
Transtorno de Personalidade Masoquista.

E) Pessoas com empatia zero, frias, pouca emoção, isoladas, fechadas (tipo 5).
Transtorno de personalidade de Esquiva, (Esquizóide)

F) Indivíduos com desconfianças e medos intensos (tipo 6).
Transtorno de Personalidade Paranóide.

G) Pessoas adultas com comportamento infantil, sem limites, voltados para si mesmo (tipo 7).
Transtorno de Personalidade Narcisista.

H) Indivíduos agressivos, confrontadores, dominadores (tipo 8).
Transtorno de Personalidade Antissocial.

I) Indivíduos narcotizados, passivos-dependentes, com pouca vontade (tipo 9).
Transtorno de Personalidade Dependente

As pessoas que sofrem das perturbações de personalidade podem ter consciência do problema, mas não querem ou conseguem mudar, outras pessoas não enxergarão a própria perturbação, mesmo sendo advertidas por observadores de fora.

A Neurose Clássica 

A neurose clássica implica em maior grau de regressão, e aumento maior do conflito latente.
Ocorre em pessoas com perturbações de personalidade pré-existente.
Um conflito forte rompe o equilíbrio dinâmico, devido a perturbação da personalidade pré-existente, há uso de novos e mais fortes mecanismos de defesa, estabelecendo-se assim um novo equilíbrio dinâmico, em nível mais regressivo, no qual novos sintomas desempenharão papel importante. Exemplos de neurose clássica:

1) Um homem com fobia aguda, era antes perfeitamente normal como ele próprio se definia. No entanto, na psicoterapia percebeu-se que ele experimentara forte inibição com as mulheres, constrangimento junto às pessoas, sensações de timidez, medo e fuga, sentindo-se sempre melhor quando estava sozinho. São evidencias significativas de perturbação da personalidade antes do aparecimento da neurose aguda fóbica.

2) Uma mulher com forte preocupação com contaminação praticava rituais de limpeza que enlouqueciam a família. Na psicoterapia se observou que a mulher já tinha preocupações com limpeza além do normal.

Na perturbação da personalidade o nível de integração está fixado.
Na neurose clássica há intensificação da regressão no momento do surto neurótico.

As Psicoses

São doenças mentais graves, onde há um desequilíbrio mental forte, como a esquizofrenia, o transtorno bipolar, a depressão maior.
Há um extremo grau de regressão do nível de integração e função do ego.
Há um maior aparecimento no consciente do pensamento primário, com renúncia ao processo secundário e crescentes perturbações no confronto com a realidade e ruptura na adaptação.


Os Estados Borderline (Fronteiriços)

Na escala da regressão entre as neuroses e as psicoses estão os estados borderline. Neles o nível de adaptação psíquica oscila, o que implica maior ou menor grau de regressão. Há oscilações na natureza dos conflitos, dos mecanismos de defesa, no uso dos pensamentos do processo primário e secundário e no confronto com a realidade.

O indivíduo em resposta a um forte estresse tem a capacidade limitada de se adaptar ao nível neurótico e rapidamente torna-se psicótico. Depois volta ao estado neurótico.
Os borderlines não chegam na classificação de psicóticos, mas sofrem de todas as perturbações mais próxima do psicótico que do neurótico.

No DSM – 5, estes indivíduos são classificados, dentro da categoria de Transtornos de Personalidade.

As Perturbações Orgânicas

Muitas doenças físicas como tumor cerebral, epilepsia, distúrbios endócrinos, infecção, traumatismo, intoxicação, uso de álcool e drogas, distúrbio cérebro-vascular, etc., podem interferir na função cerebral e produzir perturbações psicológicas como sintomas neuróticos, estados boderline ou psicóticos. A função cerebral é afetada nos estados da memória, inteligência, juízo, percepção, etc., os impulsos inconscientes afloram, e as funções do ego prejudicadas pelo cérebro doente não conseguem manter a adaptação e integração sadias.

A Etiologia (A Causa)

Os transtornos mentais podem ter uma ou mais causas. Em muitos transtornos a causa é só psíquica, no entanto, há outros transtornos cujas causas são constitucionais (genéticas), outros transtornos as causas são as perturbações orgânicas, outros as causas são os fatores bioquímicos e neurofisiológicos.
Os fatores físicos não podem ser considerados isolados. Por exemplo, numa festa as pessoas ingerem álcool, e diferentes sintomas podem ocorrer, de pessoa para pessoa. Assim, o desenvolvimento genético-psicológico, o nível dinâmico de integração e adaptação psíquica, devem ser considerados na avaliação da causa do transtorno.

O Índice de Regressão
O quadro clínico sofre influência do nível de regressão que pode ser veloz, agudo e superficial mas, outras vezes é lento, crônico e profundo. Neste caso o indivíduo pode desenvolver novos mecanismos de compensação (defesa).

Oscilação de Regressão

A regressão, reflexo das funções do ego e dos mecanismos de defesa, pode oscilar em qualquer direção e o psicanalista pode observar um quadro clínico com diferenças expressivas. Indivíduos que apresentam oscilação na regressão enfrentam os conflitos e estresse de modo diferente. Muda de pessoa para pessoa, conforme suas defesas atuam, quando são mais rígidas ou não.


A Neurose Como Modo de Vida

O fator genético, o equilíbrio dinâmico psíquico, o fator externo (meio ambiente e outras pessoas), os padrões da personalidade (Eneagrama) representam um modo de vida, que é adaptação do indivíduo. Apesar das perturbações mentais é dessa forma que a pessoa segue sua vida e tende a repetir os padrões neuróticos.

Exemplos:

1. Uma mulher queixosa, dependente e passiva (tipo 9), casada há 40 anos com homem dominador (tipo 8), depois da morte dele torna-se a se casar com outro homem também dominador, passando novamente a se queixar do novo companheiro.

2. Uma mulher que gosta de sofrer (masoquista, tipo 4), é casada com um homem sádico (tipo 1), que a menospreza o tempo todo. Ela pede o divórcio, mas sente forte depressão, manifestando comportamento suicida. Tempos depois torna-se a se casar com mesmo homem e os seus sintomas diminuem.

O modo de vida de cada pessoa (neurose) vai impactar no modo de vida dos outros.

 

Quer saber mais sobre a Psicanálise e entender mais do funcionamento da mente?

Você pode iniciar fazendo um curso de formação em Psicanálise

Você também pode consultar com o Psicanalista e psicólogo Flávio Pereira.

 

Compartilhe com um amigo!
Posso te ajudar?